A edição de novembro/dezembro da Revista Página 22, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, apresenta um Guia de Inovação para sustentabilidade em MPE. Taíla Lemos, diretora da Anpei e madrinha do Comitê de Relação entre Grandes e MPME, participou da edição e foi fonte da matéria “Negócio de Coragem”, que aponta os desafios para quem pretende empreender em sustentabilidade no Brasil e as soluções para driblar as dificuldades.
De acordo com a publicação, o Brasil está longe de ser um país que incentiva a inovação para a sustentabilidade. Os percalços dos empreendedores que buscam esse direcionamento são inúmeros e vão desde dificuldades para encontrar apoio institucional e mecanismos de financiamento até a inexistência de uma cultura, por parte do consumidor, que premie e encoraje as empresas que trabalham com esse propósito.
Mas nem tudo são más notícias. A saída pode estar nos movimentos de mercado, como o de grandes empresas que estão buscando inserir os pequenos negócios inovadores em suas cadeias produtivas, nas iniciativas governamentais de promoção e fomento à exportação, e no movimento das chamadas aceleradoras de negócios sociais. Essas aceleradoras têm realizado um trabalho múltiplo de mentoring de startups e de pequenas empresas que empreendem com cunho socioambiental e, em muitos casos, até fornecem o capital necessário para fomentar suas atividades.
Mentoring pode ser traduzido como tutoria, mentoria ou apadrinhamento. É uma ferramenta de desenvolvimento profissional e consiste em um especialista ajudar pessoas menos experientes.
“O empreendedor em sustentabilidade no Brasil hoje é o mais sonhador entre os sonhadores. Ele cria seu negócio sabendo que tem potencial para gerar impacto social, mas precisa encontrar outros argumentos de venda para tornar sua empresa rentável”, afirma Taíla Lemos, diretora da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei).
Lemos coordena o Comitê da Relação entre Grandes e MPME da Anpei, que busca aproximar micros, pequenas e médias empresas das grandes companhias para que possam fazer negócios. Na sua avaliação, falta uma política de Estado com o objetivo de apoiar, dar crédito e facilitar a vida dos empreendedores da sustentabilidade.
“Não temos hoje uma política de incentivo à inovação voltada para a sustentabilidade nem uma legislação que seja indutora nesse sentido. As empresas nascentes com produtos sustentáveis que quiserem se inserir no mercado precisam enfrentar a concorrência com as que não têm esses atributos e acabam oferecendo preços mais convidativos”, afirma a diretora.
Não há estudos sobre o percentual de empreendedores no país que escolhem negócios pautados pela sustentabilidade. Mas o perfil desse novo empresário é de alguém que enxerga oportunidades onde talvez um olho menos treinado não conseguiria ver. “São pessoas atentas a um contexto global com abertura a modelos de negócios baseados nos conceitos da nova economia, como colaboração e design verde”, diz Álvaro Almeida, empresário que trouxe para o país o Sustainable Brands 2015, evento internacional que reuniu vários negócios com essa motivação.
Para Almeida, empreender no Brasil não é uma tarefa fácil, mas abrir um negócio sustentável é entrar em espaços que ainda não foram ocupados. Segundo ele, o atual momento não deve desencorajar os empreendedores que buscam negócios com perfil social ou ambiental, já que existem oportunidades de atuação únicas nesses campos.
Existem caminhos para as micros e pequenas empresas inovadoras buscarem recursos – a fundo perdido ou crédito com juros mais amigáveis em órgãos de amparo à pesquisa. Um exemplo é a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública de fomento à inovação vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que vem reformulando seus programas para atender às pequenas.
Além desse assunto específico, a matéria também destacou a atuação da Associação. “Com 250 associados, a Anpei atua em instâncias de governo e no setor produtivo. Entre as pautas, estão a luta contra o contingenciamento dos recursos para a área de ciência, tecnologia e inovação, o aprimoramento do sistema de proteção intelectual brasileiro e a capacitação de recursos humanos para a inovação”.