Segundo a ministra Luciana Santos, acordo está alinhado às prioridades do governo federal para reindustrialização em novas bases e inovação nacional
O Brasil concluiu o processo de adesão ao maior e mais avançado centro científico do mundo, a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN). O governo brasileiro foi notificado, nesta sexta-feira (22), da decisão do Conselho do CERN sobre a finalização dos procedimentos necessários para a acessão do país ao status de membro associado. O Brasil torna-se o terceiro país não europeu – e o único das Américas – a fazer parte do CERN.
A adesão brasileira representa um marco significativo no fortalecimento da cooperação científica internacional e no desenvolvimento da ciência e de tecnologias de ponta no país. Com a medida, pesquisadores e cientistas brasileiros passam a ter acesso prioritário às instalações do CERN, bem como a posições de trabalho, cursos e estágios científicos oferecidos.
Responsável pela operação do mais potente acelerador de partículas existente, o “Large Hadron Collider”, a organização é reconhecida pela pesquisa em física de altas energias e considerada um dos maiores e mais avançados centros científicos do mundo, atraindo cientistas de diversas nacionalidades. Entre seus maiores feitos estão a invenção da World Wide Web (www), em 1989; a comprovação do bóson de Higgs, a “partícula de Deus”; e pesquisas sobre a antimatéria.
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, celebrou a acessão do Brasil ao CERN. Segundo ela, o acordo vai ampliar o acesso do Brasil a infraestruturas globais de pesquisa e fortalecer a cadeia de inovação do país.
“Esta parceria será de grande importância para a comunidade científica brasileira, mas, principalmente, para a indústria nacional de base inovadora, já que vai nos permitir exportar serviços com alto valor agregado. Este processo, que durou 14 anos até ser concluído, só foi possível porque contou com o trabalho diligente de muitas pessoas e teve o apoio do Congresso Nacional e a decisão do presidente Lula. É prioridade deste governo a reindustrialização em novas bases, com o objetivo de promover e apoiar o desenvolvimento tecnológico e a inovação nas empresas nacionais”, disse a ministra.
Já o diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), Antônio José Roque, apontou que a organização social já mantém colaboração com o CERN desde 2020 na área de supercondutores para o desenvolvimento de componentes para o Sirius, o acelerador de partículas brasileiro.
“Com a adesão do Brasil, as empresas nacionais poderão fornecer equipamentos de alta tecnologia para o CERN. O CNPEM desenvolveu o Sirius junto com diversas empresas nacionais, investindo 85% dos recursos do projeto no País e evidenciando o potencial que as empresas brasileiras possuem para responder a desafios tecnológicos de altíssimo nível. A formalização do ingresso do Brasil permitirá também a capacitação de pesquisadores e engenheiros em projetos desenvolvidos por eles. É preciso também destacar que desenvolvimentos tecnológicos da área de aceleradores e detectores muitas vezes transbordam a ciência e beneficiam outros setores”, frisou.
Localizado na fronteira entre a Suíça e a França, o CERN é uma infraestrutura de pesquisa voltada para física de altas energias. Criado em 1954, logo após a Segunda Guerra Mundial, o centro científico começou com uma colaboração internacional entre 12 países. Hoje, possui 23 estados-membros plenos e 8 associados. Em 2010, a organização estendeu a possibilidade de países não-europeus se tornarem membros associados.
A associação do Brasil ao CERN é resultado de um processo iniciado há mais de uma década. Os trabalhos tiveram início em 2010 e envolveram uma estreita coordenação entre o MCTI e o Ministério das Relações Exteriores, com o apoio da academia e do meio empresarial brasileiro, em particular da Rede Nacional de Física de Altas Energias, da Sociedade Brasileira de Física, do CNPEM e da Confederação Nacional da Indústria.
O Acordo de Acessão do Brasil ao CERN foi aprovado pelo Congresso Nacional em novembro de 2023. No dia 12 de março último, foram publicados, no Diário Oficial da União, os decretos presidenciais promulgando o “Acordo entre a República Federativa do Brasil e a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear – CERN com relação à Concessão do Status de Membro Associado da CERN” e o “Protocolo sobre privilégios e imunidades da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear”.
Cooperação estratégica
A adesão do Brasil como membro associado é uma oportunidade de aprofundamento da cooperação em diversos setores estratégicos para o país. A ciência produzida no CERN permite o desenvolvimento de experimentos que oferecem soluções para a saúde, a indústria e o meio ambiente. A partir do grande acelerador LHC, outros empreendimentos científicos foram construídos. Um deles é o Sirius, que funciona no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP).
Os dois aceleradores já possuem acordo de cooperação, mas a associação do Brasil ao CERN vai elevar a transferência de tecnologia para outro patamar. Grande parte das tecnologias desenvolvidas pela organização acontece em parceria com a indústria por meio de contratos de pesquisa e desenvolvimento e de fornecimento de serviços e matéria-prima.
Outra vantagem da associação do Brasil à Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear é o acesso do país a matérias-primas especiais, como o nióbio, largamente utilizado para a fabricação de ímãs. Em vez de adquirir o minério em sua forma natural, o CERN opta pelo produto final para aplicação em seus componentes.
Fonte: MCTI