Temas como formação de pessoal qualificado, geração e armazenamento de dados de qualidade e criação de uma infraestrutura computacional adequada foram os principais pontos abordados na mesa redonda
Uma reflexão sobre os riscos da Inteligência Artificial para a sociedade, indivíduos e organizações teve lugar na 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em debate realizado nesta quinta-feira (11), no campus da Universidade Federal do Pará.
A mesa-redonda “Os Desafios da Inteligência Artificial” teve como debatedores os professores Teresa Bernarda Ludermir (UFPE), Osvaldo Novais Oliveiro Jr. (USP) e Edmundo de Souza e Silva (UFRJ), sob coordenação de Rodolfo Jardim de Azevedo (UNICAMP).
O ponto de partida da conversa foi um estudo publicado em 2023 pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) com recomendações para alavancar os avanços do desenvolvimento e uso da IA no Brasil. Formação de pessoal qualificado, geração e armazenamento de dados de qualidade e criação de uma infraestrutura computacional adequada foram os principais pontos abordados para se estender o impacto das aplicações dessa tecnologia em áreas estratégicas para o Brasil.
Para Teresa Bernarda Ludermir, a rapidez com que a tecnologia passou a integrar o cotidiano das pessoas justifica uma reflexão acadêmica. “A maneira como a IA entrou nas nossas vidas fez com que nos preocupássemos com o impacto na sociedade”, disse a pesquisadora, destacando benefícios, tais como avanços em diagnósticos médicos e aplicações como tradução simultâneas de línguas estrangeiras para viajantes.
Porém, Teresa alerta para riscos, entre eles manipulação de comportamentos, discriminação e exclusão de grupos vulneráveis. “As empresas estão dominando a IA e as universidades no mundo todo não estão conseguindo competir”, diz a professora da UFPE. “A regulação do setor é necessária para minimizar esses riscos e o ponto aqui é a privacidade dos dados pessoas, o respeito ao direito à informação e o cuidado para não duplicar leis. Também é preciso investir na formação de professores, que devem ensinar na escola os riscos do uso da nova tecnologia”, diz.
Para a professora, o desenvolvimento de uma IA ética e responsável “é crucial para construir um futuro em que a tecnologia contribua para a democratização do conhecimento e a formação de cidadãos críticos e engajados”.
Edmundo de Souza e Silva também destacou a rápida evolução da IA e a necessidade de se investir na formação de professores. “A IA tem potencialidade de transformar a educação e acelerar a inovação, porém, não tem criatividade, pois está limitada ao banco de dados disponível. Os modelos utilizados não possuem compreensão de conceitos. Ou seja, tem de saber que está lidando com um modelo que erra e saber porque erra. Também pode levar o usuário a ficar preguiçoso e não ler um livro, ou seja, pode ser auxílio, mas nunca um substituto ao bom professor”, diz o docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Por sua vez, o professor da USP Osvaldo Novais Oliveiro Jr. avisa que estamos diante de um liminar, o momento em que a máquina será capaz de gerar conhecimento. “O conhecimento sempre foi o bem mais importante para qualquer sociedade e época”, disse Oliveiro Jr.
Segundo o professor, o Brasil precisa investir mais em tecnologia e na formação digital das próximas gerações. “O conceito de segurança nacional deveria ser mudado agora, porque não é mais apenas defender fronteiras, é ter conhecimento para poder gerar os bens que a sociedade precisa. Temos insegurança nacional pela nossa dependência tecnológica e isso vai aumentar com a IA”, diz o pesquisador. “Se queremos, num país como o nosso, combater a desigualdade, precisamos ter políticas púbicas que gerem conhecimento e que não sejam baseadas em ideologia”, completou.
Fonte: MCTI