Diversas pesquisas já foram feitas tentando estabelecer uma relação direta entre volume de investimentos e capacidade inovadora das empresas. Invariavelmente os resultados apontam para a inexistência de relação direta entre essas duas variáveis. Na prática significa que se você dobrar o orçamento de inovação não há nenhuma garantia que sua empresa será duas vezes mais inovadora. Essas mesmas pesquisas apontam que o segredo dos inovadores está na forma como gerencia essa atividade. Muitas vezes os mais inovadores de diversos setores utilizam consideravelmente menos recursos, mas o fazem com maior excelência que os concorrentes.
Até alguns anos atrás, a palavra inovação estava restrita a negócios de alta tecnologia, especialmente para mercados dinâmicos como, por exemplo, o de tecnologia da informação e aeroespacial. Com poucas exceções, apenas setores com produtos de ciclos de vida curto se preocupavam em ter uma orientação estratégica voltada para a renovação do negócio de forma estruturada.
Felizmente essa situação vem se transformando rapidamente nos últimos anos. Setores tradicionais como siderurgia, calçadista, têxtil e até mesmo o setor público estão buscando estruturar sua abordagem em relação à inovação.
Claro que esse processo de transformação cultural leva algum tempo, porém estamos em evolução na mentalidade gestora de muitas organizações tradicionais.
Quando iniciamos a Innoscience, uma consultoria em gestão da inovação, há mais de 10 anos atrás era bastante incomum encontrar gestores que conheciam as metodologias e ferramentas de gestão da inovação. Na época havia uma necessidade inicial de sensibilizar a importância da inovação para os negócios e, sobretudo, apresentar o conceito de inovação como processo, que poderia ser gerenciado como as ferramentas adequadas.
Uma década depois posso afirmar que muita coisa mudou nesse sentido. Metodologias como o design thinking e lean startup estão amplamente difundidas em muitas empresas. A abordagem do tipo tentativa e erro, muito dependente do acaso e sorte, foi substituída por uma visão coordenado do processo, no qual a empresa e seus colaboradores trabalham ativamente no desenvolvimento de novas soluções inovadoras.
O futuro da Gestão da Inovação
Talvez o tema mais quente no momento seja o da aproximação das empresas consolidadas com empresas nascentes, chamadas de startups. Felizmente, nos últimos anos alguns fatores tem contribuído com o desenvolvimento do ecossistema de empreendedorismo no Brasil, especialmente decorrente da facilidade de criar novos negócios digitais e a inspiração de alguns casos sucesso nacionais.
Muitos setores começam a visualizar uma transformação iminente nos modelos de negócios que irão demandar competências distintas das atualmente existentes. Setores consolidados como bancos, seguros, educação e saúde estão atentos a essas mudanças. As chamadas fintechs, por exemplo, são startups que aliam tecnologia com serviços financeiros. Elas estão desenvolvendo soluções que prometem acabar com o modelo tradicional de bancos com agências e tarifas de serviços. Além disso, muitas delas estão criando sistemas automatizados de investimentos utilizando grandes quantidades de dados, melhorando a tomada de decisão.
Nesse contexto, empresas estabelecidas estão buscando se aproximar dessas startups para acelerar seu processo de transformação. Essa conexão traz resultados importantes para ambas organizações. De um lado as empresas estabelecidas podem se valer das novas tecnologias e modelos de negócios para atualizar sua oferta ao mercado, enquanto de outro as startups podem aproveitar a base de negócios já estabelecida para gerar caixa e escalar sua solução. No final das contas, ambas se beneficiam dessa conexão.
Já a utilização de dados para inovação é o tema mais novo quando falamos em gestão da inovação. O chamado innovation data analytics se vale do processamento de uma grande quantidade de dados para gerar insights e ideias de novos produtos, serviços e mudanças em processos. Com a evolução da capacidade de processamento computacional e das fontes de geração de dados, sistemas computacionais estão auxiliando os gestores da inovação na identificação de oportunidades.
Recentemente um cliente da indústria farmacêutica utilizou um sistema computacional cognitivo que permitiu interpretar milhões de artigos científicos em um curto espaço de tempo, cruzando informações de diferentes fontes visando descobrir novas moléculas para tratamentos de doenças relevantes. Esse trabalho de análise de uma grande quantidade de dados teria levado anos e envolvido um contingente grande de pesquisadores se feito manualmente.
É muito comum ouvirmos reclamações das dificuldades mercadológicas e institucionais explicando a dificuldade de competir. Muitas vezes a única solução está na própria empresa, criando um ambiente que facilite a inovação. Nesses casos, nada melhor que utilizar as ferramentas e metodologias adequadas para tornar a empresa mais inovadora.
Por Felipe Ost Scherer
Fonte: Revista Exame