Etapa final é decidida por votações online feitas por médicos. Saiba como participar.
a contramão de um Brasil dependente de importações e imerso então em uma pandemia, um grupo de cientistas, com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), se dedicou ao desenvolvimento pioneiro de uma vacina contra a Covid-19 100% nacional: a SpiN-Tec. O imunizante é hoje finalista do Prêmio Euro e se tornou referência não apenas para fabricação de outros imunizantes no Brasil, como também em países da América Latina e da Europa.
“A SpiN-Tec vai muito além de uma vacina para a Covid. Ela permitiu criar um ecossistema de pegar uma vacina conceitual e levar ao ensaio clínico. Isso nunca tinha sido feito no Brasil. É o principal legado”, conta o doutor Helton Santiago, responsável pelo desenho e coordenação do ensaio clínico do imunizante. “A SpiN-TEC é uma plataforma para que outras vacinas possam chegar nos braços dos brasileiros”, completou.
Desenvolvida por pesquisadores brasileiros do Centro Tecnológico de Vacinas (CTVacinas) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a SpiN-TEC difere dos outros imunizantes por estimular a imunidade celular e ser mais resistente às variantes. Além disso, é estável na temperatura de geladeira por pelo menos 9 meses e por cerca de um mês em temperatura ambiente, o que facilita sua distribuição. Hoje, o imunizante se encontra em aprovação do ensaio clínico fase dois.
À frente do projeto está o imunologista, pesquisador e professor Ricardo Tostes Gazzinelli, que salientou o apoio do MCTI. “A SpiN-TEC nasceu e foi nutrida pelo MCTI”, explicou. “É importante porque, no Brasil, temos fábricas de vacinas, temos o SUS, mas não temos um elo fundamental da corrente, que é passar a vacina da universidade para os braços dos brasileiros. Ficávamos frustrados porque as vacinas ficavam represadas dentro da universidade, esse foi o primeiro exemplo que levamos para braço do paciente”, comentou.
Gazzinelli destacou ainda o aspecto de a vacina representar uma maior soberania brasileira e diminuição da dependência externa. “Todas as vacinas produzidas no Brasil são oriundas de importação de tecnologia. Esperamos que, com esse processo, possamos fazer outras vacinas”, explicou.
Premiação
O trabalho desenvolvido pelo CTVacinas da UFMG foi selecionado, entre iniciativas de 17 países da América Latina, para a fase final do Prêmio Euro. O vencedor principal receberá 500 mil euros, valor que seria investido pelo CTVacinas para potencializar o desenvolvimento de duas vacinas inéditas: contra Doença de Chagas e zika.
“É um reconhecimento, mas também um estímulo muito grande para futuro desenvolvimento de novas vacinas. É uma premiação que ajuda a divulgar esse trabalho, dá valor à ciência e mostra para comunidade como a ciência é importante para nosso dia a dia”, avalia Gazzinelli.
A etapa final é decidida por votações online feitas por médicas e médicos com registros ativos de qualquer um dos 17 países participantes. Para os médicos votarem, basta se registrar no site do prêmio (https://premioeuro.com/) e selecionar o trabalho “SpiN-Tec: plataforma de desenvolvimento de uma vacina inovadora para Covid-19 desde a concepção”, na categoria “Inovação em Terapias”. O número de identificação (ID) é 231 e o responsável pela inscrição é o professor da UFMG Helton da Costa Santiago, coordenador da fase clínica da SpiN-TEC.
O pesquisador Helton Santiago também celebrou a premiação. “A equipe por trás desse projeto é muito grande. Represento uma equipe que tem trabalho de pessoas geniais, de mais de 30 pesquisadores”, disse.